segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Vida e arte se misturam no palco

Portadores de deficiência encontram no teatro e na dança ferramentas para a inclusão social.

"Só uma mão jamais fará aplauso, só uma boca jamais fará o beijo. Tudo junto, sim, formarão uma imensa risada que quando Deus ouvir, nunca mais vai se sentir sozinho." (Oswaldo Montenegro)

Cadeirantes e deficientes visuais encenam, a partir de fevereiro, o musical A Mansão de Miss Jane (versão Mix), no teatro Dias Gomes. O grupo faz parte do Projeto Mix Menestréis, criado pelo diretor Deto Montenegro em 2003, com o objetivo de usar a arte como ferramenta de inclusão.

O roteiro da peça original - escrita para atores sem limitações físicas - teve de sofrer algumas adaptações para os portadores de deficiência, principalmente a parte coreográfica. Mas o resultado final, segundo o diretor, é muito próximo do original.

“Não se pode mudar muito, porque senão você foge da linha original do musical. É importante que o público identifique o espetáculo original nesta versão para portadores de deficiência. Por outro lado, é inevitável mudar, porque a cadeira de rodas muda toda a relação de tempo e espaço no palco”, explica Deto.

A partir do Projeto Mix, Deto Montenegro, irmão de Oswaldo, criou a Cia Mix Menestréis – um grupo composto por portadores de deficiência.

Para fazer a idéia vingar, o diretor criou um método para que os deficientes visuais pudessem se locomover no palco, a partir do poema escrito pelo irmão (ver epígrafe). ”Percebi que, no momento em que o deficiente visual achasse o cadeirante, ele não só o conduziria, mas o contrário também aconteceria”, explica ele.

Percepção, intuição, reflexo, capacidade de improvisação, capacidade de lidar com as dificuldades, com os erros e principalmente, com a auto-estima, foram mudanças perceptíveis no dia-a-dia dos atores da Cia Mix.

“Conheci muitas pessoas com deficiências, pessoas com mais limitações do que eu. Mudei até o fato de não reclamar mais da vida e passei a ver com outros olhos a capacidade do ser humano”, confessa o ator cadeirante Rodolfo Ferran.

Outro exemplo de auto-estima é o de Roseli, atriz deficiente visual, que também faz parte do grupo formado pela Cia Mix. “O teatro faz com que a gente fique mais feliz, mais alegre, mais convicta. Você aceita melhor as pessoas ao seu redor e aprende a trabalhar em grupo”, afirma.

Dançando no escuro

A dança também é terreno fértil para a inclusão de portadores de deficiências. Que o diga a bailarina e fisioterapeuta Fernanda Bianchini, que desenvolveu voluntariamente um método de ensino pioneiro no Instituto de Cegos, em São Paulo, há 15 anos.

“Eu não sabia ao certo como ensinar ballet para deficientes visuais”, admite, lembrando que suas professoras sempre diziam que seria impossível ensinar sem recorrer à imitação visual. “Mas criei, junto com minhas alunas, um método de aprendizado através do toque. Eu nunca tive que ensinar duas vezes o mesmo passo, pois as alunas jamais o esqueciam,” afirma a fisioterapeuta.

Em dezembro, a Associação de Ballet e Artes para Cegos Fernanda Bianchini encenou o tradicional espetáculo natalino “O Quebra-Nozes”, no Teatro Vivo, em São Paulo.

De acordo com a bailarina, o segredo é lançar mão dos outros sentidos, já que os alunos são privados da visão. “Em primeiro lugar, usa-se muito a audição, pois eu descrevo oralmente a ação corporal. Em seguida, o aluno passa a utilizar o tato para sentir que tipo de movimento está sendo realizado e reproduzi-lo”, diz Fernanda.

Assista ao vídeo em que Fernanda conta como criou o método de ensino de balé para deficientes visuais.



Serviço

Para saber mais, acesse os sites www.oficinadosmenestreis.com.br;
www.ciafernandabianchini.org.br

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